terça-feira, 9 de novembro de 2010

NossoLar

 (NossoLar, 2010, Wagner de Assis)


Tenho que confessar que minha expectativa era muito baixa nessa produção. Por isso, me surpreendi. O filme é bom, razoavelmente bem conduzido, construindo emoção ao longo de sua exibição.
O início do filme (primeiros 30 minutos?) faz disparar o alarme de bomba-á-vista. Parece que a construção do personagem foi zero (ele já começa morto). Mas aos poucos a direção vai entrando nos eixos.

Nunca li o livro. Mas a cena com os notebooks representando a "modernidade" no "paraíso" me pareceu totalmente fora de sentido. Se ainda estávamos nos anos 30, qual o sentido de ter tal equipamento lá? Só se justificaria se estivéssemos nos tempos atuais, e as máquinas "emulassem" o que temos aqui para os espíritos ficarem mais confortáveis. Se fosse uma tecnologia mais avançada, poderia ser BEM mais avançada, e não mostrar exatamente o que temos "agora", na época da produção do filme. Foi uma falha terrível da Produção e da Direção de Arte.

Apesar disso, os efeitos especiais são razoáveis, algumas vezes mais convincentes do que outras. A narração e vozes em off realmente tornam um pouco chata a experiência e minimizam a emoção que deveria ser passada as vezes apenas por olhares dos aotres, mas não chega a comprometer a ponto de ficar intolerável. A trilha sonora fica um pouco invasiva às vezes, no entanto fiquei em dúvida se o problema era da mixagem de som ou da sala mediana em que assisti à produção.

Os textos e diálogos didático também foram muito criticados, creio que erroneamente também, pois os personagens estão realmente sendo didáticos - estão ensinando ao protagonista André Luiz.

É verdade que ele tem momentos que -talvez estejam no livro original - mas que poderiam ter sido cortados na obra cinematográfica como repetição de discursos anti-ateístas, reafirmando que estão todos errados. Apresentar o falho personagem que vai ao purgatório como um ateu me pareceu um clichê-lugar comum desnecessário também. Um religioso teria sido muito mais interessante.

Vi muitas críticas à passagem considerada desrespeitosa para com outras crenças, que seriam os judeus indo para o "mundo espírita" ao serem mortos na segunda guerra. Não vi nada de errado na cena, a lógica do filme é que todos iriam para lá, não interessando sua religião, então tem todo o sentido do mundo. Eu confesso que também achei inusitado, mas não desprovido de sentido. Se fosse uma ficção científica, em que ressuscitavam as pessoas no futuro através de DNA congelado armazenado, ninguém iria criticar algo dizendo que somente as religiões que acreditam em ressureição poderiam ressucitar, e que seria falta de respetito colocar personagens de crenças diferentes. Sei lá, foi um exemplo fraco e confuso, mas o que quero dizer é que faz todo sentido se o filme for visto como fábula ou uma ficção normal.

Concordo com a maioria dos críticos no entanto, que devido ao valor investido e a preocupação com vários detalhes técnicos, "Nosso Lar" poderia ter contribuído muito mais para o cinema nacional.

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